Embora o futebol seja intrinsecamente simples, a bola oficial do Campeonato do Mundo, como a Trionda da Adidas, é o resultado de uma inovação complexa, muito além de um mero objeto para uma “peladinha”. A reputação do desporto assenta na ideia de que basta uma única peça redonda de equipamento para desfrutar de uma partida, mas nem todas as bolas de futebol são criadas da mesma forma, especialmente as concebidas para o Mundial.
Apresentada como a bola oficial do Campeonato do Mundo de 2026, coorganizado pelos EUA, Canadá e México, a Trionda da Adidas tem um nome com duplo sentido: “Tri” alude às três nações anfitriãs (com cores azul, vermelho e verde), enquanto “Onda” evoca a palavra espanhola para “onda” ou “vibração”. No entanto, as suas características mais distintivas residem nos elementos “invisíveis” e no extenso processo de desenvolvimento que culminou na sua apresentação.
“Cada Campeonato do Mundo é único, e as bolas refletem essa singularidade a cada edição.”
— Solene Stormann, diretora global de categoria de equipamentos de futebol da Adidas.
Apesar dos processos consolidados da Adidas para a criação de bolas oficiais, a Trionda passou por inúmeras fases de inovação e testes exaustivos. O objetivo é que, no momento do pontapé de saída no Estádio Azteca, na Cidade do México, no dia 11 de junho, a sua avançada tecnologia se torne “invisível” para os jogadores, permitindo que a atenção se concentre exclusivamente no jogo.
Considerações sobre Humidade e Chip de IA
A Trionda destaca-se como a primeira bola oficial desenvolvida com os diversos climas das 16 cidades anfitriãs em mente, desde Vancouver, no Canadá, até à Cidade do México. A Adidas dotou-a de uma textura com aderência extra para garantir que a sensação no pé dos jogadores seja idêntica, independentemente das variações de humidade, altitude e temperatura de cada local.
“Sabemos que teremos 16 cidades anfitriãs e queríamos garantir que esta bola funcionasse em todo o lado. Por isso, testámos as diferenças de localização, níveis de humidade, altitude e temperatura, para assegurar o desempenho em todas as condições.”
— Solene Stormann.
Os testes iniciais à capacidade da Trionda para se adaptar a diferentes níveis de humidade foram realizados em ambientes controlados, antes de ser levada para sete das 16 cidades anfitriãs do Mundial. Aí, jogadores de equipas como os Vancouver Whitecaps da MLS e os Tigres da Liga MX experimentaram a bola, contribuindo para o processo de avaliação da marca.
Tal como a sua antecessora, a Al Rihla (bola do Mundial 2022 no Qatar), a Trionda integra um chip alimentado por Inteligência Artificial (IA), agora posicionado na lateral da bola, em vez do centro. Este sistema avançado foi concebido para fornecer dados e informações em tempo real, visando apoiar os árbitros na tomada de decisões mais rápidas e precisas. Além disso, os conhecimentos obtidos durante o Campeonato do Mundo de 2026 serão cruciais para orientar as futuras inovações da Adidas, à medida que a empresa se adapta à evolução tática do futebol moderno.
“Se olharmos para certos indicadores de desempenho no futebol – o número de passes, as corridas de alta velocidade, os sprints ao longo do jogo, tudo isto está a aumentar. Do ponto de vista tecnológico, no seguimento do desempenho, a bola era uma espécie de última fronteira, quase impossível de rastrear opticamente. Certas coisas, como a frequência de toque durante um drible, nunca poderiam ser rastreadas sem um sensor interno. É aqui que, do ponto de vista da compreensão do jogo, a profundidade com que o compreendemos e antecipamos o seu futuro, ter o rastreamento desbloqueado representa uma enorme promessa para o futuro.”
— Hannes Schaefke, líder de inovação em futebol da Adidas.
A Bola Mais Testada de Sempre
A Adidas encara o design de cada bola oficial como uma “tela em branco”, dado que as variáveis em constante mudança exigem rondas contínuas de testes e inovações.
As queixas sobre bolas anteriores, como a Jabulani (usada na África do Sul em 2010), que foi descrita como um “desastre” e uma “bola de praia” por alguns guarda-redes, e a Telstar 18 (Rússia 2018), que recebeu críticas por ser difícil de controlar e imprevisível na trajetória, acentuaram a importância da aerodinâmica. Isso influenciou o design da Trionda, que é composta por quatro painéis fluidos, em contraste com os 20 painéis geométricos da Al Rihla. Esta mudança não é meramente estética, mas funcional, otimizando a estabilidade aerodinâmica.
“Não é sobre a quantidade de painéis que dita se ela tem um bom desempenho ou não, é mais sobre a combinação do painel com o seu comprimento de costura e as linhas em relevo, como são realmente organizadas em torno da bola, como são homogeneamente colocadas para que isso realmente influencie todos os critérios aerodinâmicos.”
— Solene Stormann.
A dedicação de grande parte do processo de testes à aerodinâmica reflete as lições aprendidas com as críticas às bolas Jabulani e Telstar 18, tornando este aspeto um foco central.
A Adidas realiza testes científicos rigorosos, tanto no seu laboratório interno (com simulações robóticas) como com parceiros externos, como a Universidade de Loughborough, que efetua testes em túnel de vento. Estes testes avaliam critérios aerodinámicos como a estabilidade em voo, velocidade de lançamento, o efeito (curva) e a precisão.
Contudo, o teste mais crucial da bola é realizado pelos próprios jogadores. Solene Stormann afirma: “Queremos também validá-la através dos jogadores, porque eles têm uma perceção se ela funciona para eles ou não. Por isso, testamo-la com jogadores amadores e profissionais para obter o seu feedback e validação.”
As seleções nacionais terão acesso à Trionda para treinos com três a quatro meses de antecedência. O verdadeiro legado da bola – se se tornará um fator de destaque ou um participante silencioso que realça a simplicidade inerente do futebol – será determinado nos campos do Campeonato do Mundo de 2026.





